Diana Almeida é a criadora do projecto artístico TORA artlab. A marca de roupa personalizada é gerida por si e pela família, desde 2020. As peças são vendidas em alguns festivais de música, sobretudo durante o verão, mas todo o ano na loja online. Os portes para a Europa são gratuitos.
Falámos com a Diana para saber como nasceu este projecto e qual a sua ligação pessoal com o reggae e como foi a criação de um negócio artístico em plena pandemia. Podem encontrar a marca também no Facebook e Instagram.
Quando e como é que surgiu este projecto?
TORA.ARTLAB é um projecto de família que nasceu em Junho de 2020. O meu irmão, Rui, foi quem o impulsionou. Eu sempre adorei desenhar. Desde a minha infância que o desenho era o meu refúgio de uma forma muito natural. Eu não lembro o dia onde não senti necessidade de me expressar através da pintura. Em criança, eu copiava os esboços dos designers de moda e inventava tatuagens, porque o meu sonho era ser designer ou tatuadora. Eu penso que a arte sempre foi meio que uma obrigação, a minha essência tinha uma relação muito séria com a expressão artística já em criança. Então, eu segui Artes Visuais na escola, e Design Gráfico na universidade.
Houve, então, uma altura onde eu comecei a aplicar desenhos que fazia em fotografias de roupas e o meu irmão pegou imediatamente na ideia e tornou realidade. Foi ele que deu vida à TORA.ARTLAB, eu teria continuado na sombra e no meu mundo se ele não visse o brilho no que eu estava a fazer por brincadeira.
Hoje, eu sou responsável pelo design e marketing da marca, o meu irmão é quem faz, gere e produz, e os meus pais tratam de tudo relacionado à costura e envio. Eu adoptei um estilo de vida nómada então sem a minha família nada seria possível. Enquanto eu saio em busca de cultura visual e inspiração, eles certificam-se de que tudo flui e acontece. É óptimo trabalhar em família, lutamos pelo mesmo sonho. Penso que é por isso que tudo tem fluído tão bem. TORA.ARTLAB é amor multiplicado por quatro. E o público certamente sente isso, todo o nosso cuidado e carinho está em cada peça. Não há espaço para que não seja assim.
Tudo é desenhado à mão por ti, certo?
Cada design meio que reflecte o contexto em que vivo. O primeiro design, Octopus Ink,
foi desenhado à mão, as texturas foram conseguidas com acrílico em papel e foi finalizado com o Illustrator e o Photoshop. A inspiração para esse design vem da minha viagem ao Japão, que influenciou totalmente o meu desenho desde então. É um trabalho muito especial para mim e para o meu irmão, foi a entrada para este caminho que percorremos hoje. O segundo, o Earth Sucks, também foi desenhado à mão no papel e digitalizado para ser composto com as formas que criei no Illustrator. Ele fala sobre O Todo. Apesar de estar expressamente escrito Earth Sucks, eu amo a perfeição cíclica do planeta Terra. Neste design debate-se a vida após morte de um ser humano que viaja pelo Universo com o seu skate e depara-se com a pequenez da nossa casa. Eu tendo a expor os meus debates mais profundos no que faço.
O How to Burn the System, o design mais recente, já foi elaborado num iPad que consegui comprar graças ao sucesso dos meus primeiros dois designs. No início, demorava bem mais tempo para terminar um design. Este último trabalho foi criado para o nosso rebanho de ‘ovelhas negras’ que, tal como nós, não concordam com um sistema baseado no medo e na desigualdade. Um trabalho que eu adoro pessoalmente, é o casaco em pele pintado à mão sem qualquer tipo de esboço. Ele veio da necessidade de criar, enquanto estava na Holanda, cheia de inspiração e vontade de fazer coisas diferentes. Aí pintei até telas, vestidos, retratos,… Porque a verdade é que não é fácil manter uma disciplina de criação quando a minha vida muda radicalmente a cada mês. Amsterdão foi uma cidade incrível para mim.
O teu foco é nas camisolas e casacos, não é? Pensas expandir para mais peças?
Sem dúvida. A marca TORA.ARTLAB é muito polivalente apesar de ainda ser uma bebé recém-nascida, não quero defini-la como uma marca de roupa. TORA.ARTLAB é uma marca de realização de sonhos, não há limites nem portas fechadas. Nos meses de Novembro e Dezembro, teremos novas peças e designs muito diferentes do que costumamos fazer. Está a decorrer neste momento um concurso onde a nossa família (os nossos clientes) tiram fotos com as suas peças e a mais criativa ganha uma T-shirt da nova colecção. Estamos a abrir também um serviço de merch para estúdios, plataformas, artistas e festivais. Assim podemos trabalhar com diferentes projectos, aprender e ensinar, não há nada como o trabalho em equipa. Temos como foco, também, continuar a pintar murais como o que pintei na Cidade do México. Foi uma das experiências mais maravilhosas da minha vida, agora quero pintar o mundo inteiro.
Qual o intervalo de preços das tuas peças?
Os preços têm variado entre os 40€ e os 65€ com envio gratuito para toda a Europa. Falamos aqui de trabalhos originais e de qualidade, as peças são 100% algodão e parceiras de crime por muitos anos. Nós preferimos qualidade a quantidade, preferimos produzir menos e não existirem muitas pessoas com a mesma roupa. Nesta nova colecção haverão peças com preços diferentes, uns mais acessíveis do que o normal, outras menos. A marca TORA.ARTLAB trabalha no âmbito da expressão pessoal através da roupa que usa, na irreverência, na rebeldia. As peças exclusivas, como o vestido de alfinetes e o casaco de pele, têm preços baseados na sua exclusividade. É muito importante como artistas e trabalhadores entendermos como devemos valorizar o que fazemos, principalmente numa era de roupa rápida e descartável.
Além do site, é possível encontrá-las à venda em algum espaço?
Nós já seleccionámos algumas lojas físicas onde poderão encontrar as nossas peças. E não só em Portugal e na Europa. Mas é popular que falador passa mal… 2022 será um ano de muita manifestação nesse sentido.
Costumas estar em festivais? Normalmente quais?
Este Verão estivemos na Croácia, no festival Mo:Dem. Foi uma experiência maravilhosa porque conhecer e conectar com o público é mesmo muito recompensador. Eu não consigo descrever a sensação incrível que é quando apreciam o nosso trabalho. Estamos a fazer um itinerário de festivais para estarmos presentes mas a vida é muito imprevisível com a pandemia. A janela está aberta para que o vento nos leve onde tem de levar nesse sentido.
A pandemia teve muito impacto no negócio?
A pandemia atrasou praticamente tudo. Foi muito difícil ter dinheiro para produzirmos as nossas peças, todos ficámos sem trabalho. Eu e os meus pais vendíamos comida tradicional com alternativa vegan pelos festivais de Portugal, então a situação foi muito complicada. Mas, ao mesmo tempo, a TORA.ARTLAB meio que foi um escape e saída dessa realidade. Foi, também, durante a pandemia que adoptei um estilo de vida nómada responsável. Sempre se encontram formas de seguirmos em frente, a chave é a capacidade de adaptação. Nessa altura vendia telas a apreciadores de arte holandeses para ter dinheiro para produzir mais.
Qual a tua ligação ao reggae?
O reggae, para mim, é a voz da revolução de amor, é a expressão livre, de emoções e pensamentos. Na verdade, é uma perspectiva acerca da vida. Além de o meu pai sempre me ter influenciado a escutar reggae porque ele adora, eu penso que a educação que eu e o meu irmão tivemos foi fundada nos valores que a cultura reggae carrega. Força, Amor e Positividade. A vibração do reggae é muito poderosa, manifestadora, transformadora. Fazer o que se ama é vibrar nessa mesma frequência. Viver da arte em viagem não é fácil, muito menos abundante em dinheiro. A riqueza vem da liberdade, do amor por nós e pelos outros, da paz de espírito, da humildade. O reggae ensina o amor e a gratidão, quem sente o reggae é aprendiz desses ensinamentos e eu acho que, na verdade, esses são os ensinamentos mais poderosos no que toca a criar um melhor amanhã.
Uma mensagem que queiras deixar aos nossos leitores.
Gostava de deixar uma mensagem de força. Tudo começa com uma intenção. Na minha infância não existiam viagens, muito menos hotéis ou bons restaurantes. Na minha infância era mesmo um sonho eu ser artista. Tanto eu como o meu irmão começámos a trabalhar cedo na nossa adolescência para ajudarmos a nossa família pois não havia final do mês sem stress. Mas havia amor, esperança e sonhos. Tudo é possível. Se lês isto, une a tua mente, o teu espírito e o teu corpo e acredita que os teus sonhos são possíveis.
O destino depende da caminhada que optamos fazer. Não deixes que um não te derrube, que a falta de esperança dos outros te afete. A vida retribui cada esforço e a nossa intuição encarrega-se de nos mostrar o caminho. Em criança, seria um sonho inatingível para mim eu pintar um mural na Cidade do México. Olhar para essa criança que eu era só me encoraja mais e mais para seguir os meus sonhos e eu adorava que toda a gente vivesse essa sensação. Porque há milhões de génios na sombra por medo ou falta de esperança. E na vida não há tempo para medos. Há tempo para desbloqueios.