Esta semana, a Selajahfary esteve à conversa com Masko Selecta, produtor, músico, selecta e promotor.
A tua carreira na música já é longa, mas para os nossos leitores que talvez não te conheçam tão bem, como é que tudo começou?
Antes de mais quero agradecer pelo convite. Bem, sempre gostei de música desde que me lembro. Desde os 10 anos trocávamos cassetes pois não havia o acesso que agora existe, era mais difícil ter acesso a coisas novas. Na minha escola secundária, António Nobre, juntávamo-nos uns quantos, às vezes uns 20, e fazíamos jams eternas com jambés e guitarras aprendendo e influenciando uns aos outros, até nos começaram a chamar aquele movimento Zona Dread. Mais tarde eu chamaria esse nome à minha Promotora de eventos como homenagem. Nós ouvíamos de tudo um pouco desde punk, grunge, Hip Hop e já algum reggae, era uma variedade de influências e quem tinha bandas geralmente era uma mistura de géneros, o chamado alternativo.
De que forma te ligaste ao mundo do reggae?
Dentro das minhas incursões musicais já ouvíamos algum reggae em compilações, como Tosh, Prince Far i, Bob, Mickey Dread, algo muito random que se ia arranjando. Mas o click do reggae e a razão pela qual me apaixonei e fiquei verdadeiramente adicto por este estilo foi em 98 quando estava em Espanha de férias e um parça, o Sapo, nos mostra um flyer da Banda Culture. Como estávamos perto de Barcelona, eu e o Ras Pine, que já conhecíamos Culture de algumas compilações, não hesitámos em juntar todos os recursos que tínhamos e mandamo-nos para lá de comboio sem bilhete do concerto sem nada.
Bem, quando encontramos o local de concerto, cá fora já sentíamos a energia do pessoal e a ânsia de toda a gente para ver a banda de Joseph Hill que estavam na altura a espremer o álbum “One Stone” e promover o álbum que já estava gravado, o “PayDay”. Para quem poucos ou nenhuns concertos de Reggae tinha ido, ouvir os Culture no seu auge é aquela chapada mesmo, desde o ambiente onde só vês sorrisos, pessoas de todas as classe sociais e géneros e bongos rolar pela festa… bem o power e alegria que a música me deu naquele concerto foi indescritível, foi perfeito, nunca me tinha sentido assim e percebi a mensagem e poder do roots reggae nessa noite.
Se nos puderes falar um pouco sobre o teu percurso, desde os Sativa até Mighty Lions.
O híbrido de Sativa (a primeira banda de reggae roots do Porto) começou mesmo logo a seguir a essa viagem com o Ras Pine na street a conhecer uns rastas Angolanos aqui no Porto, o Dino e o Cumbiça e eles convidaram-nos para ir à sua ocupa dar uns toques com eles. Quando chegámos lá foi muito nice, ficámos horas a tocar guitarras e eles a cantarem. Nitidamente já tinham uma letras, o estilo do Dino era mais spoken word e do Cumbiça aquele roots melódico, o que casava muito bem. Assim, começámos a recrutar pessoal, o Pulga para o baixo e fazer os primeiros ensaios em sala, mas infelizmente os vocalistas tiveram de sair do Porto e seguir a sua vida. Nós deitamos as mãos a obra, recrutámos o Dubi, que na altura tocava percussão e fazia vozes.
Pusémos cartazes na rua a procurar vocalistas de reggae e tivemos a sorte de encontrar a cantora Luso-Francesa Madalena Trabuco que já tinha tido uma banda em França, os “Rasbaille”. Aí demos o primeiro concerto no Festival Dubtronic, a abrir Lee Perry e Mad Professor, em 2002, no mítico Sá da Bandeira. Após outra restruturação pela saída da Madalena, o Dubi assumiu o lugar de vocalista principal e essa é a fase da banda mais conhecida e admirada até hoje.
Chegámos a ganhar o concurso europeu de bandas, no qual o prémio era ir tocar ao antigo Rototom Sunsplash, em Osopo (Itália), e uma compensação financeira para a viagem, o que nunca se veio a realizar por motivos de saúde de um dos elementos e falta de palavra da Junta de Freguesia de Paranhos. Nestes early days, também fundámos o primeiro colectivo de soundsystem, os “In Guetto Sound”, que era eu, o Ras Pine e o Dubi.
Depois, passados uns anos decidi sair e abracei um projecto novo, a banda “Human Chalice”. Nessa mesma altura, decidi também fazer o meu próprio colectivo de sound com a Sista Kato, e surgiram os Mighty Lions Sound, que ainda mantenho até hoje, e está desde há uns tempos mais virado para produção musical própria do que para selecções musicais que ainda fazemos.
Entre estes diversos projectos, co-fundei o colectivo Real Rockers, com o I-Roy Selections, com intuito de trazer o roots de volta à cidade do Porto. De momento, sou o guitarrista da Banda “Rádio Bomba”, que está no processo de mistura do nosso primeiro álbum, que esperamos lançar em 2023.
O que é que a música te tem ensinado ao longo destes anos?
A música tem-me ensinado muito ao longo dos anos e eu ainda me sinto aprendiz todos os dias. Não consigo imaginar a minha vida sem música, é um género de terapia e uma das melhores formas de libertar serotonina que conheço. Consumo imensa música diariamente e sou coleccionador de vinil, que é um dos meus melhores vícios. A minha filha Lua cresceu rodeada de música e a dançar nos nosso concertos desde bebé e consigo perceber a boa influência que a arte musical lhe deu como bagagem nesta vida, ficando orgulhoso disso e feliz por saber que ainda há gente a ouvir a nossa música e a retirar boas energias e a mensagem positiva. Aprendi também que os músicos são como os tubarões, se param morrem.
Sentes-te mais realizado como selecta ou como guitarrista?
É uma questão que nunca me tinham feito mas penso que me sinto mais realizado como guitarrista. No entanto, já tive oportunidade de fazer selections em alguns países da Europa e como selecta tive o privilégio de compartilhar os palcos dos meus maiores heróis do Reggae. As duas cenas eventualmente acabaram por se fundir, uma vez que Mighty Lions lança música e riddims originais, no qual gravo guitarras e outros instrumentos.
Podes ter o melhor dos dois mundos, ter uma banda e ser selecta. Uma coisa não invalida a outra.
Quais são os planos para este Verão? Tens datas marcadas?
Bem, este Verão estou mais focado em acabar umas tunnes e uns dubs que estou a produzir. Também estou a finalizar o meu E.P em conjunto com a Gwari Music, onde o meu plano para estes meses assenta em passar mais tempo no laboratório.
Se não estivesses no reggae, imaginas-te a ser músico noutro género musical?
Sim, imagino-me e tenho interesse por outro estilos musicais, como por exemplo o Soul Funk da Motown, World music, Boom Bap, Neosoul, entre outros.
Tens uma mensagem para os nossos leitores?
Aproveito para dar o conselho de nunca desistirem dos vossos sonhos, sejam eles quais forem. Que continuem a gostar e a lutar para que o reggae português cresça e se eleve a outros patamares.
Também gostava de dar os parabéns a Selajahfary pelo excelente trabalho e pelo convite feito. Estamos Juntos.